quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Escultor da realidade, ou esculpido por esta

Os recortes de Tarkovski são primorosos, quando este delimita o cinema como uma arte que retrojeta o heroísmo da vida comum, o protagonismo do nosso cotidiano fantástico, nos expõe, necessariamente, a necessidade de encarar o que denominamos comum, de uma forma mais justa, a ponto de não contrapor este com adjetivação quase utópica do desejar ser, da fantasia e não do fantástico, como quando cita Dostoiévski e Gogol, e seus protagonistas do espaço comum e dos aleijos que não tomam força pelo vislumbre fantasioso, mas sim pela esmagadora força do cotidiano e das relações humanas.



"Qual é a essência do trabalho de um diretor? Poderíamos defini-la como "esculpir o tempo". Assim como o escultor toma um bloco de mármore e, guiado pela visão interior de sua futura obra, elimina tudo que não faz parte dela — do mesmo modo o cineasta, a partir de um "bloco de tempo" constituído por uma enorme e sólida quantidade de fatos vivos, corta e rejeita tudo aquilo que não necessita, deixando apenas o que deverá ser um elemento do futuro filme, o que mostrará ser um componente essencial da imagem cinematográfica."

Trecho do livro Esculpir o Tempo.





Trecho do documentário Elegia Moscovita, de Alexander Sokurov